domingo, 2 de maio de 2010

Skizz, de Alan Moore

por Fernanda Friedrich

Skizz é uma HQ escrita por Alan Moore e ilustrada por Jim Baikie. Diferentemente de outras obras publicadas por Moore, Skizz não ganhou tanta projeção, à exemplo de V for Vendetta, Watchmen e Liga dos Cavaleiros Extraordinários (entre outros quadrinhos do autor) que foram adaptadas para as telonas do cinema, embora Moore não seja muito fã dessas adaptações – que o diga Sean Connery! Publicada em 1983, Skizz narra a história de um alienígena – cuja forma nos remete a um simpático canguru – que, devido a problemas com sua nave, acaba parando no nosso planetinha azul para realizar alguns reparos, no que não é muito feliz: sendo o planeta azul habitado por seres com “desenvolvimento restrito”, o computador de navegação, seguindo as leis interestelares, entra em modo de autodestruição, ignorando o fato de o intérprete Shcczhz (o alienígena em questão) estar vivo e saudável – à exceção de algumas costelas fraturadas. Desesperado, o alienígena livra-se de todos os artefatos tecnológicos que possui, a fim de convencer seu computador de bordo de que a sua presença na Terra não afetará a tecnologia terrestre e pula para fora da nave segundos antes da explosão, ficando à mercê dos seres que habitam o planeta, bem como de possíveis doenças que podem o acometer. Zhcchz vaga pelo local e encontra com os primeiros seres humanos, que compara aos “macacos desenvolvidos” de Tau-Ceti, seu planeta natal. Ao ouvirem os lamentos do simpático alienígena, esses humanos, que estão brigando entre si, o perseguem pela cidade até que nosso herói consegue se esconder em um abrigo desabitado.

Ao mesmo tempo, uma adolescente chamada Roxane está sendo convencida por um garoto a deixá-lo entrar em sua casa, já que seus pais estarão viajando pelo final de semana. Infelizmente – ou pelo menos infelizmente para o rapaz –, Roxy o manda embora depois de alguns xingamentos e uma eloquente batida de janela. A adolescente entra lamentando-se e escuta um barulho na garagem; imaginando ser Darren, o cara insistente, ela sai furiosa de seu quarto e vai vistoriar o local, dando de cara com o intérprete Zhcchz.

Aí se estabelece o primeiro contato direto e não hostil de um ser humano com o alienígena. Roxy cuida do nosso querido canguru, tenta alimentá-lo – no que não é bem-sucedida, visto que nada pára no estômago de Zhcchz – e o trata com bastante atenção, o que o surpreende, visto que, durante a sua experiência com os seres humanos, Shcchz só enfrentou situações relativamente violentas e desagradáveis. Devido ao fato de que o Zhcchz, apelidado de Skizz por Roxy, não consegue se alimentar, ela vai até uma farmácia, onde compra comida de bebê e esbarra em dois amigos de seu pai, Loz e Cornelius. Ambos foram despedidos da firma em que seu pai trabalha, o que não parece preocupar Loz, mas que afeta bastante Cornelius que, ao ser questionado por Roxy como estava em relação ao seu emprego, afirma apenas “Eu tenho meu orgulho”, frase que repete várias vezes no desenrolar da história e que, de certa forma, justifica todas as suas ações. Os dois dão uma carona a Roxy e estranham – ou pelo menos Loz estranha, visto que Cornelius parece estar completamente alheio à realidade – o fato de uma adolescente estar comprando comida para bebê e lhe oferecem ajuda ao deixá-la em casa. Esse pedido de ajuda não tarda se realizar; ao encontrar Skizz, Roxy percebe que o alienígena está bastante doente e, sem saber o que fazer, chama os amigos de seu pai. Ao se dar conta de que nada podem fazer para ajudar o alienígena, Loz liga pra a emergência.

Esses acontecimentos ocorrem simultaneamente ao descobrimento dos resquícios da nave de Skizz pelo governo e de uma grande comoção para o rastreamento do alienígena, que desconfiam ser um espião. E são eles quem vão buscar o intérprete na casa de Roxy, o que acaba por tornar pública a chegada de um extraterrestre ao planeta Terra. Naturalmente, Roxy, Cornélius e Loz são questionados a respeito do que disseram a Skizz e de quais informações ele pode ter-lhes passado. A investigação é liderada pelo capitão Van Owen, que está completamente obcecado com a ideia de que Skizz é um grande inimigo que deseja destruir o planeta Terra, ignorando a possibilidade de que esse encontro pode ser pacífico – ou mesmo um acidente.

Na base militar, Skizz se recupera do resfriado aprende a falar inglês, sendo, dessa forma, interrogado pelo Capitão, que desconfia de todas as suas respostas. Enquanto isso, protestos são feitos em frente à base militar em que Skizz está sendo mantido e Roxy, Cornelius e Loz organizam uma força-tarefa para sequestrar Skizz, estratégia que funciona bem até o momento em que eles são encontrados pelo capitão, que fica obcecado pela ideia de assassinar o inofensivo intérprete de Tau-Ceti. Os sequestradores e a presa são encurralados e, então, um milagre acontece: conterrâneos de Skizz descem do céu com suas naves brilhantes para resgatá-lo das “feras” terrestres. Skizz se despede de todos, finalizando as despedidas ao receber um beijo emocionante de Roxy.

Em toda a narrativa, são fortes as referências ao filme E.T. - O Extraterrestre, dirigido por Steven Spilberg e que, não coincidentemente, estreou nos cinemas apenas um ano antes da publicação de Skizz. Porém, diferentemente do filme, o nosso simpático canguru é encontrado por uma bela garota que se preocupa todo o tempo com o seu bem-estar, sugerindo, de certa forma, um relacionamento pseudo-amoroso entre os dois personagens, ente outras diferenças; Skizz é recebido com bastante violência pelos outros seres humanos, causando uma certa confusão, que é bastante explorada durante a narrativa; ao ser questionado por um de seus conterrâneos, afirma: “Eles... Eram cruéis e feios. Havia muito ódio e desespero... E tanto amor”. Os sentimentos que Skizz passa a experimentar durante sua estadia no planeta Terra são completamente novos para ele: a raiva pelo Capitão Van Owen, a necessidade de combatê-lo durante os interrogatórios, a vontade de mentir pela primeira vez, para acalmar Roxy; todos esses episódios o aproximam dos seres humanos e, de certa forma, reforçam a ideia de que os seres humanos são intelectualmente inferiores; afinal, deixam-se guiar por emoções. Um dos personagens mais intrigantes é Cornelius, que se envolve no sequestro de Skizz devido ao fato de que também se sente um alienígena dentro da própria sociedade em que está inserido, sendo descrito por Skizz como uma criatura que “tem um certo tipo de nobreza, uma aura de força colossal, lutando contra um desespero esmagador”, o que prova-se verdadeiro no momento em que Cornelius arrisca sua vida para salvar Skizz. É uma narrativa que peca pelo não aprofundamento das várias situações de conflito e dos próprios personagens, o que é melhor desenvolvido em outras narrativas de Moore, como Watchmen ou V de Vingança, por exemplo; deve-se levar em consideração o fato de que Skizz foi publicada em apenas uma edição, ao contrário das HQs citadas anteriormente. Ainda assim, é um trabalho bastante interessante para quem gosta ou pretende conhecer a obra de Moore, além de ser uma leitura bastante divertida.

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