terça-feira, 22 de junho de 2010

DYLAN DOG

por Jonas Tenfen

As denominações das Histórias em Quadrinhos (inclusive a própria denominação HQ) trazem em si muito da cultura onde foram criadas e das culturas que as influenciaram, trazem muito do seu estilo, forma e método. O próprio HQ tenta ser um título genérico, contudo, no seu fazer, temos técnicas que só podem ser desse estilo, ou antes, técnicas que este estilo não absorve de outros.

Por isso há um certo pleonasmo vicioso (expressão que por si só é um pleonasmo) em se falar do mangá japonês, comics estadunidense, gibi brasileiro, fumetti italiano. Ao exposto, fica o comentário de que fumetti quer dizer, em uma tradução rápida, fumacinha: os balões de texto são entendidos analogamente como a fumaça saindo de uma boca em m dia frio. Claro que os estilos transbordam uns sobre os outros, vê-se, por exemplo, o mangá, que é a técnica mais influente da atualidade. Mônica Jovem (um projeto já mencionado pelo Maurício de Souza em entrevistas há mais de dez anos) pôde acontecer pela popularização do mangá no Brasil – claro está que há dez anos Mônica Jovem jamais seria sonhado no estilo mangá, mas com a popularização e publicação massiva deste tipo de HQ, houve a solidificação do público leitor que permitiu a Maurício de Souza Produções a publicação deste novo produto.

No Brasil, por muito tempo, os fumetti’s da Sérgio Bonelli Editore ocupo este espaço para jovens e adultos. Tex Willer (o mais italiano dos rangers das histórias de faroeste) já dividiu espaço nas bancas com Natan Never, Nick Rider, Dylan Dog, Martin Mystère, Mágico Vento, Zagor, entre tantos outros. Quase todos detetives, investigadores ou com alguma profissão que desempenhe semelhante papel.

Como o caso de Dylan Dog: ex-agente da Scotland Yard, abandonou a polícia para ser detetive particular, para se tornar o Detetive do Pesadelo. Com a maioria das histórias se passando sob o fog londrino, Dylan é especializado em casos que envolvem o sobrenatural, o misterioso, o terrífico.

Dylan Dog é alto, macilento, cabelo escuro, cortado e ligeiramente rebelde, traja terno, calça jeans e camisa com a gola desabotoada. Um estereotipo que o criador do personagem, Tiziano Sclavi, vai aproveitar em outras de suas obras: Dylan Dog faz tanto sucesso na Itália (desde a primeira publicação em 1986, este fumetti bate recordes sucessivos de vendagem) que autor não deixa de se aproveitar, e muito, disso. O filme Dellamorte Dellamore (que em inglês recebeu o título de Cemetery Man é baseado em um romance de Sclavi, cujo protagonista tem esta aparência. Filme este que é apontado como um dos mais importantes na história do cinema – do gênero na Itália. (No livro 101 Horror Movies - you mest see before you die temos o comentário: Considered by many film enthusiasts to be the last great horror film to emerge from Italy, Michele Soavi’s Dellamorte Dellamore (a.k.a Cemetery Man) is a solidly crafted film that skillfully blends art with the grotesque. Se bem que, com a quantidade de zumbis, vampiros e mortos-vivos nos filmes de terror, estes 101 filmes podem ser vistos after you die, sem uma perda muito do prazer de assisti-los.)

Falando em filme, promete-se para 2010 o tão esperado longa-metragem sobre o Detetive do Pesadelo. O ator que irá (iria?) interpretar Dylan Dog na telona será (seria?) Brandon Routh, que fez Clark Kent / Super-Homem em Superman Returns. Os condicionais do período anterior são importantes para ressaltar que tantas promessas já foram feitas, tantas especulações já foram boladas sobre um filme de Dylan Dog que não me espantaria que fosse esta mais uma.

E o que não falta nas histórias e aventuras de Dylan Dog são mortos-vivos, vampiros, fantasmas, monstros, pessoas cruéis, psicopatas, da mesma forma que não faltam belas damas que têm suas roupas rasgadas durante os ataques destes seres, não faltam rituais de sacrifício de virgens, não faltam seis que escapam furtivamente (e fartamente) das roupas translúcidas ou rasgadas. Como o mais canastrão dos detetives, Dylan Dog tem sucessivos relacionamentos amorosos com as clientes, com as parentes das clientes, ou com ambas.

Para fechar o tripé narrativo deste fumetti (terror, erotismo e humor), temos o seu ajudante: Groucho Marx. Não exatamente o mais velho dos irmãos Groucho, mas um sósia perfeito do comediante estadunidense. Na verdade, para sósia perfeito, falta um detalhe: ser engraçado. AS piadas de Groucho não fazem Dylan Dog rir, nem suas clientes e nem mesmo as aberrações que enfrentam. Esses simulacros de famosos como auxiliares dos protagonistas são comuns nos fumetti’s: Mágico Vento é auxiliado, em suas aventuras, por EdgarAlan Poe.

A publicação de Dylan Dog no Brasil sempre foi descontínua (não só no Brasil, verdade seja dita, nos EUA também há uma descontinuidade). Aqui o título já saiu sobre os selos do Grupo Editorial Record, da Editora Globo, da Editora Conrad e da Mythos Editora. Talvez com o filme haja, novamente, um impulso de publicações deste fumetti, contudo, tais publicações – se houverem, fique claro – fatalmente serão re-edições de histórias do Detetive do Pesadelo já publicadas no Brasil.

A música favorita de Dylan Dog, tocada por ele em L’alba dei morti viventi (O Despertar dos Mortos, no Brasil) primeira das suas aventuras.

Aqui temos uma adaptação livre (bem livre) de O Despertar dos Mortos feita por um fã. Nota para o fato de que o auxiliar de Dylan Dog é um tal de Phil – uma liberdade que tomou o produtor do vídeo.

Trailer de Cemetry Man

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dica de Sexta: Sandman

Em um texto que não pode deixar de ser considerado clássico, Ítalo Calvino perguntava “Por que ler os clássicos?” Depois de, mais ou menos, quatro páginas de profunda erudição, ele conclui que devemos ler os clássicos porque é melhor que não ler os clássicos. Se voltarmos essa pergunta ao tema deste rápido, teremos que devemos ler Sandman porque os Perpétuos assim entenderam a nossa missão na Terra.

O personagem Sandman foi criado livremente* por Neil Gaiman sobre um conto de fadas – comum em várias culturas europeias – sobre o homem que vem a noite e joga areia nos olhos das crianças e adultos para estes adormecerem (Der Sandmann em alemão, Sandman em inglês, Ole Lukoeje em um conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, João Pestana em português.) Gaiman fez valer a referência mitológica ao personagem: Sandam aparece sob várias formas nos onze Arcos que compõem a saga, sob vários nomes, mas com apenas um reino, desde a sua libertação até a sua morte: O Sonhar.

Sobre a aparência de Sandman, costumava-se mencionar que a fisionomia clássica do personagem (alto, magro, esquálido, cabelos negros e revoltos) é uma referência à voz (e tudo o mais) do The Cure, Robert Smith. Tenho cá para comigo que pode ser mais uma referência ao próprio Gaiman, ele assumindo ares do personagem que irá projetar a sua carreira e, em não poucos momentos, eclipsá-la.

Há quem resuma a escrita de Gaiman como um dos mais importantes escritores shakesperianos da atualidade, e, sem muito exagero teórico, de todos os tempos (desde que assumida a produção de HQs como literatura, pelo menos, uma forma de). Fica o comentário que Shakespeare foi uma das inúmeras fontes das quais bebeu, sempre com muita propriedade, Gailman. Se somos feitos da mesma matéria dos sonhos, conforme uma das inúmeras frases do Bardo do Avon, só os sonhos podem responder; mas, pelas sucessivas edições e re-edições de Sandman que têm sido lançadas no Brasil, não é um sonho distante poder lê-lo ou, fica aqui de fato a dica, pegar emprestado com um amigo.

No primeiro vídeo, temos a canção de The Chordettes chamada Mr. Sandman, canção esta muito popular nos EUA. No segundo vídeo, a mesma música cantada pelo Blind Guardian

E, por fim, a música Enter Sandman, que teria sido inspirada pelos quadrinhos de Gaiman.

*Futuramente pretendemos falar da personagem denominada Sandman que já existia no Universo DC.