terça-feira, 22 de junho de 2010

DYLAN DOG

por Jonas Tenfen

As denominações das Histórias em Quadrinhos (inclusive a própria denominação HQ) trazem em si muito da cultura onde foram criadas e das culturas que as influenciaram, trazem muito do seu estilo, forma e método. O próprio HQ tenta ser um título genérico, contudo, no seu fazer, temos técnicas que só podem ser desse estilo, ou antes, técnicas que este estilo não absorve de outros.

Por isso há um certo pleonasmo vicioso (expressão que por si só é um pleonasmo) em se falar do mangá japonês, comics estadunidense, gibi brasileiro, fumetti italiano. Ao exposto, fica o comentário de que fumetti quer dizer, em uma tradução rápida, fumacinha: os balões de texto são entendidos analogamente como a fumaça saindo de uma boca em m dia frio. Claro que os estilos transbordam uns sobre os outros, vê-se, por exemplo, o mangá, que é a técnica mais influente da atualidade. Mônica Jovem (um projeto já mencionado pelo Maurício de Souza em entrevistas há mais de dez anos) pôde acontecer pela popularização do mangá no Brasil – claro está que há dez anos Mônica Jovem jamais seria sonhado no estilo mangá, mas com a popularização e publicação massiva deste tipo de HQ, houve a solidificação do público leitor que permitiu a Maurício de Souza Produções a publicação deste novo produto.

No Brasil, por muito tempo, os fumetti’s da Sérgio Bonelli Editore ocupo este espaço para jovens e adultos. Tex Willer (o mais italiano dos rangers das histórias de faroeste) já dividiu espaço nas bancas com Natan Never, Nick Rider, Dylan Dog, Martin Mystère, Mágico Vento, Zagor, entre tantos outros. Quase todos detetives, investigadores ou com alguma profissão que desempenhe semelhante papel.

Como o caso de Dylan Dog: ex-agente da Scotland Yard, abandonou a polícia para ser detetive particular, para se tornar o Detetive do Pesadelo. Com a maioria das histórias se passando sob o fog londrino, Dylan é especializado em casos que envolvem o sobrenatural, o misterioso, o terrífico.

Dylan Dog é alto, macilento, cabelo escuro, cortado e ligeiramente rebelde, traja terno, calça jeans e camisa com a gola desabotoada. Um estereotipo que o criador do personagem, Tiziano Sclavi, vai aproveitar em outras de suas obras: Dylan Dog faz tanto sucesso na Itália (desde a primeira publicação em 1986, este fumetti bate recordes sucessivos de vendagem) que autor não deixa de se aproveitar, e muito, disso. O filme Dellamorte Dellamore (que em inglês recebeu o título de Cemetery Man é baseado em um romance de Sclavi, cujo protagonista tem esta aparência. Filme este que é apontado como um dos mais importantes na história do cinema – do gênero na Itália. (No livro 101 Horror Movies - you mest see before you die temos o comentário: Considered by many film enthusiasts to be the last great horror film to emerge from Italy, Michele Soavi’s Dellamorte Dellamore (a.k.a Cemetery Man) is a solidly crafted film that skillfully blends art with the grotesque. Se bem que, com a quantidade de zumbis, vampiros e mortos-vivos nos filmes de terror, estes 101 filmes podem ser vistos after you die, sem uma perda muito do prazer de assisti-los.)

Falando em filme, promete-se para 2010 o tão esperado longa-metragem sobre o Detetive do Pesadelo. O ator que irá (iria?) interpretar Dylan Dog na telona será (seria?) Brandon Routh, que fez Clark Kent / Super-Homem em Superman Returns. Os condicionais do período anterior são importantes para ressaltar que tantas promessas já foram feitas, tantas especulações já foram boladas sobre um filme de Dylan Dog que não me espantaria que fosse esta mais uma.

E o que não falta nas histórias e aventuras de Dylan Dog são mortos-vivos, vampiros, fantasmas, monstros, pessoas cruéis, psicopatas, da mesma forma que não faltam belas damas que têm suas roupas rasgadas durante os ataques destes seres, não faltam rituais de sacrifício de virgens, não faltam seis que escapam furtivamente (e fartamente) das roupas translúcidas ou rasgadas. Como o mais canastrão dos detetives, Dylan Dog tem sucessivos relacionamentos amorosos com as clientes, com as parentes das clientes, ou com ambas.

Para fechar o tripé narrativo deste fumetti (terror, erotismo e humor), temos o seu ajudante: Groucho Marx. Não exatamente o mais velho dos irmãos Groucho, mas um sósia perfeito do comediante estadunidense. Na verdade, para sósia perfeito, falta um detalhe: ser engraçado. AS piadas de Groucho não fazem Dylan Dog rir, nem suas clientes e nem mesmo as aberrações que enfrentam. Esses simulacros de famosos como auxiliares dos protagonistas são comuns nos fumetti’s: Mágico Vento é auxiliado, em suas aventuras, por EdgarAlan Poe.

A publicação de Dylan Dog no Brasil sempre foi descontínua (não só no Brasil, verdade seja dita, nos EUA também há uma descontinuidade). Aqui o título já saiu sobre os selos do Grupo Editorial Record, da Editora Globo, da Editora Conrad e da Mythos Editora. Talvez com o filme haja, novamente, um impulso de publicações deste fumetti, contudo, tais publicações – se houverem, fique claro – fatalmente serão re-edições de histórias do Detetive do Pesadelo já publicadas no Brasil.

A música favorita de Dylan Dog, tocada por ele em L’alba dei morti viventi (O Despertar dos Mortos, no Brasil) primeira das suas aventuras.

Aqui temos uma adaptação livre (bem livre) de O Despertar dos Mortos feita por um fã. Nota para o fato de que o auxiliar de Dylan Dog é um tal de Phil – uma liberdade que tomou o produtor do vídeo.

Trailer de Cemetry Man

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dica de Sexta: Sandman

Em um texto que não pode deixar de ser considerado clássico, Ítalo Calvino perguntava “Por que ler os clássicos?” Depois de, mais ou menos, quatro páginas de profunda erudição, ele conclui que devemos ler os clássicos porque é melhor que não ler os clássicos. Se voltarmos essa pergunta ao tema deste rápido, teremos que devemos ler Sandman porque os Perpétuos assim entenderam a nossa missão na Terra.

O personagem Sandman foi criado livremente* por Neil Gaiman sobre um conto de fadas – comum em várias culturas europeias – sobre o homem que vem a noite e joga areia nos olhos das crianças e adultos para estes adormecerem (Der Sandmann em alemão, Sandman em inglês, Ole Lukoeje em um conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, João Pestana em português.) Gaiman fez valer a referência mitológica ao personagem: Sandam aparece sob várias formas nos onze Arcos que compõem a saga, sob vários nomes, mas com apenas um reino, desde a sua libertação até a sua morte: O Sonhar.

Sobre a aparência de Sandman, costumava-se mencionar que a fisionomia clássica do personagem (alto, magro, esquálido, cabelos negros e revoltos) é uma referência à voz (e tudo o mais) do The Cure, Robert Smith. Tenho cá para comigo que pode ser mais uma referência ao próprio Gaiman, ele assumindo ares do personagem que irá projetar a sua carreira e, em não poucos momentos, eclipsá-la.

Há quem resuma a escrita de Gaiman como um dos mais importantes escritores shakesperianos da atualidade, e, sem muito exagero teórico, de todos os tempos (desde que assumida a produção de HQs como literatura, pelo menos, uma forma de). Fica o comentário que Shakespeare foi uma das inúmeras fontes das quais bebeu, sempre com muita propriedade, Gailman. Se somos feitos da mesma matéria dos sonhos, conforme uma das inúmeras frases do Bardo do Avon, só os sonhos podem responder; mas, pelas sucessivas edições e re-edições de Sandman que têm sido lançadas no Brasil, não é um sonho distante poder lê-lo ou, fica aqui de fato a dica, pegar emprestado com um amigo.

No primeiro vídeo, temos a canção de The Chordettes chamada Mr. Sandman, canção esta muito popular nos EUA. No segundo vídeo, a mesma música cantada pelo Blind Guardian

E, por fim, a música Enter Sandman, que teria sido inspirada pelos quadrinhos de Gaiman.

*Futuramente pretendemos falar da personagem denominada Sandman que já existia no Universo DC.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Maus, Art Spiegelman

por Fernanda Friedrich

"Estou pensando no meu livro... É pretensioso da minha parte.

Quer dizer, não consigo nem entender minha relação

com meu pai...Como eu vou entender Auschwitz?...

Ou o Holocausto?... É muito esquisito tentar reconstruir

uma realidade pior do que os meus sonhos mais

pavorosos. E ainda por cima em quadrinhos!"


Maus é, antes de tudo, um desafio. Não tanto pela dificuldade de leitura (uma vez que os nomes poloneses e alemães são assimilados, a leitura é bastante agradável se não levarmos em conta os fatos relatados durante a história), mas pela pretensão do autor em tentar narrar o inenarrável, como julgou uma vez Walter Benjamin: a experiência do Holocausto. Um desafio belamente superado, diga-se de passagem: Art Spiegelman ganha o Prêmio Especial Pulitzer um ano após a publicação do segundo volume de Maus, em 1992 e sua obra continua a suscitar reflexões, seja entre os entendidos de literatura, de história ou de artes, sendo um sucesso de crítica.

As primeiras publicações de Maus (que significa rato, em alemão) tomaram corpo na revista RAW entre 1986 e 1991, revista de quadrinhos e artes gráficas de vanguarda co-fundada e editada por Art Spiegelman. Maus narra a experiência vivida pelo pai de Art, Vladek Spiegelman, um judeu polonês, durante a Segunda Guerra Mundial. O casamento com Anja, filha de uma família judia rica, os primeiros contatos com o nazismo, o início da guerra, a separação, morte e desaparecimento de familiares, as dificuldades vividas em Auschwitz e o reencontro com Anja no campo de concentração, o fim da guerra e as conseqüências dessa experiência na vida dos judeus, tudo isso é transmitido para Art através de entrevistas ocorridas durante visitas à casa de seu pai com o objetivo de publicar um livro. A seguinte afirmação é um clichê, mas é uma história realmente emocionante, especialmente por ter sido transmitida em detalhes por alguém que foi vítima e herói, vivendo toda a experiência catastrófica do Holocausto de perto.

A maneira que Spiegelman retrata os personagens é bastante interessante: estadunidenses são cães, poloneses são porcos, alemães são gatos e judeus são ratos, fazendo uma referência às propagandas nazistas da época. Esse recurso fez com que a publicação da grafic novel na Polônia fosse adiada algumas vezes; é interessante, porém, notar que nas cenas em que judeus se disfarçam de poloneses ou em que o próprio Art Spiegelman aparece durante o tratamento com seu psicanalista (judeu sobrevivente ao holocausto) todos estão de máscaras, ou indicando sua origem, ou mascarando-a.

Além desses detalhes, são palpáveis os problemas de Art para conviver com seu pai, um judeu racista e avaro, com dificuldades extremas para se relacionar com quem quer que seja. Alguns anos depois de terminar a guerra, Vladek e Anja foram pais novamente (seu primeiro filho, Richieu, morreu durante a guerra): Art nasceu e, dez anos depois, Anja se suicidou. Vladek se casou novamente com uma sobrevivente do Holocausto chamada Mala, com a qual tinha um relacionamento bastante complexo: enquanto que ela não agüentava as pressões de Vladek, a necessidade de guardar “tralhas” (pois elas poderiam ser úteis um dia) e de gastar pouco, Vladek a considera uma mulher gastadeira que estava apenas atrás de seu dinheiro – o que se prova verdadeiro de certa forma, porque ela o abandona e “limpa” a conta bancária dos dois, apesar de voltar para cuidar de Vladek quando esse adoece. Com Art, Vladek age da mesma forma, afirmando que seu filho não sabe valorizar o dinheiro, o que faz com Art seja relativamente intolerante com suas obsessões e seus problemas, dificultando o relacionamento entre dois. Além disso, Spiegelman tem seus próprios fantasmas em relação à guerra: durante as confissões com sua namorada, Françoise, Art relata que, quando jovem, imaginava situações em que tinha que escolher qual de seus pais sobreviveria à guerra, bem como a respeito da maneira que enxergava seu irmão mais velho: enquanto Richieu era o retrato do filho perfeito, Art era o filho que errava, que decepcionava, vivendo à sombra da imagem de seu irmão. Tão difícil quanto sobreviver à guerra é sobreviver depois dela: as possibilidades, os traumas e as vitórias sempre retornam para assombrar os sobreviventes e seus descendentes.

Ler Maus é uma experiência interessante e dolorida. Tem seus momentos divertidos e engraçados, muitos por conta dos problemas de comunicação entre Vladek e Art, mas, possivelmente devido ao fato de retratar um dos momentos mais embaraçosos da humanidade, suscita uma nostalgia incômoda, pois as lembranças de Vladek, de certa forma, ultrapassam a barreira das páginas e passam a fazer parte do leitor. Quando ouvi falar de Maus pela primeira vez – uma história em quadrinhos ambientada na Segunda Guerra mundial, com ratos representando judeus e gatos representando alemães -, confesso que não tive muita vontade de conhecer; me pareceu pretensioso demais. Mas Spiegelman traduz as experiências de seu pai de maneira tocante, mas nada piegas, fazendo com que a história se torne interessante a cada virada de página.

sábado, 15 de maio de 2010

Do sofá!: O soldado mais dançante

(Do sofá! seção off topic sobre vídeos, filmes, tevê e o que mais o fim de semana possa (nos) oferecer)

por Jonas Tenfen

Em uma batalha, há pouco tempo para pensar em algo mais do que matar o inimigo antes que ele “logre êxito”. Nos intervalos dos tiroteios ou nas eternas esperas em trincheiras e tocaias, o tempo, tão parco, tão fugidio, parece se dilatar, parece encerar-se no único propósito de esmagar a sanidade dos soldados que começam a sofrer pelos remorsos, lembranças e feridas de outras espécies.

É muito comum encontrarmos na vasta obra de Érico Veríssimo combatentes enfrentando seus pensamentos enquanto acalentam os rifles a espera da peleia. O primeiro volume de O tempo e o vento, que se chama O continente, se passa durante uma noite e quase cem anos: na noite mais longa do ano, a de São João, a família Cambará está sitiada no seu sobrado, aguardando um novo ataque: assim os personagens, para passar o tempo e suportar o vento, se entregam às lembranças, e, assim, entendemos os porquês e comos da situação apresentada.

Seja com clavas ou naves interplanetárias, todas as guerras são absurdamente parecidas, todos os soldados são iguais: alguns são pais, outros irmãos e tios; alguns são ricos, muitos são pobres; alguns buscam aventura, outros fortuna; mas todos são filhos. O que parece diferenciá-los, ou melhor, o momento em que é possível de fato perceber as diferença é quando as armas cessam, mesmo que momentaneamente.

O jogo dos Quatro Quatros foi criado por soldados ingleses nas suas trincheiras durante a Primeira Guerra Mundial. Enquanto aguardavam a ordem de ataque, soldados brasileiros em treinamento para a Segunda Guerra mundial, capturaram uma cobra e estavam dispostos a fazerem-na fumar (assim reza a lenda que conheço); de fato, uma atitude politicamente incorreta em treino àquilo que nos é ensinado como o mais politicamente correto, mas, salvo engano, a guerra é mais prejudicial à saúde que o cigarro. Falando em fumaça, no filme Platoon (de 1986), os soldados americanos no Vietnã espantavam as moscas e o tédio fumando maconha – entre outras coisas. Estes exemplos são mais ou menos datados, mas apostas entre soldados, esportes idiotas (quem cospe mais longe, por exemplo), avacalhações com os novatos e a partilha de sonhos e realidades sempre serão remédios corriqueiros para evitar a loucura e o desespero (se evitáveis, diga-se). Às vezes, os soldados até treinam... às vezes.

Um ótimo filme pautado mormente nesse tipo de espera é Soldado Anônimo (o título original é Jairhead, que, em uma tradução literal, seria Cabeça de Cuia), segue o trailler e uma cena emblemática:


Essa longa introdução tem seu objetivo: uma tentativa de explicar, ou mais modestamente, comentar um dos maiores sucessos das duas últimas semanas (a fama é cada vez mais efêmera) no youtube: Soldados Dançantes no Afeganistão parodiando o videoclipe Telephone, de Lady Gaga e Beyoncé. O clipe original é um mini-filme de nove minutos, um pastiche recheado de humor-negro e penteados (estes mais engraçados que aquele).

Parte da vida profissional de Lady Gaga foi fazer músicas para a Britney Spears, segundo dados do Oráculo Melhorado, a Wikipédia. Essa informação não torna o mundo um lugar melhor, mas explica muita coisa. Apesar dos sucessos monstruosos no Youtube (nenhum vídeo, até hoje, foi mais assistido que Bad Romance), Lady Gaga conseguiu fazer o impensável, o impossível: piorar o pop. Ela não é sequer mais do mesmo, é menos, muito menos, de coisa alguma. A melhor coisa da obra de Lady Gaga – desde o que já conhecemos ou o que está por vir – são as paródias dela e, aqui, ponto para os Soldados Dançantes. O clipeTelephone, de Gaga, termina com os estilosos dizeres To be continued... Basta saber se isso é uma promessa ou uma ameaça.

É claro que não poderíamos esperar a leveza de bailarinos do bolshoi ou a ginga de Carlinhos de Jesus, afinal, antes de Dançantes, são Soldados. E, como manda a rígida etiqueta militar, os cabelos estão sempre bem aparados, o que impossibilita penteados à la Gaga. Os cenários, ao que tudo indicam, são dois: um alojamento e uma garagem, que, ambos dentro de um campo militar, não se afastam tanto assim de uma penitenciária.

Os Soldados Dançantes levam a sério o convite que lhe foi feito: Enjoy the Army. Faltam-me informações para saber se são do exército, mas mesmo que sejam da marinha, o convite é semelhante: Enjoy the Navy. Aproveite, deguste, enjoy. Eles são os melhores dos melhores, treinados e selecionados durante os mais sádicos testes e provações para, agora, alcançarem a glória suprema dos dias de hoje, enquanto aguardam a glória eterna de terem vencido uma guerra: se tornar um viral na internet (e sem ser em uma fail compilation).

Entre passos elaboradíssimos e coreografias ímpares, o grande destaque do vídeo é o Soldado Mais Dançante, o único que faz participação solo. A situação no Afeganistão está muito longe de ser resolvida, mas, ao que tudo indica, a dança da vitória está muito bem ensaiada.

PS: não é sem uma certa ironia que podemos analisar os Soldados Dançantes ao som das seguintes palavras: Hello, hello, baby, you called, I can't hear a thing / I have got no service in the club, you see, see / Wha-wha-what did you say? Oh, you're breaking up on me / Sorry, I cannot hear you, I'm kinda busy / K-kinda busy, k-kinda busy / Sorry, I cannot hear you, I'm kinda busy

Ganhador da HQ do Calvin e Haroldo, A vingança da babá.

Olá, pessoal, foi anunciado no post anterior que o resultado da nossa promoção estaria atrelado ao sorteio 4449 da Loteria Federal deste sábado (15/05) e, por mais que as possibilidades estipuladas parecessem exageradas, o ganhador saiu somente no 3º prêmio da Loteria, o bilhete nº 20.933, ficando então a HQ do Calvin para @cinejornal, nona posição da nossa lista.

Em breve, novas promoções lançadas pelo @cultura_hq

Novamente, agradecemos a tod@s que repercutem a Cultura HQ!

Equipe Cultura HQ!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Promoção HQ Calvin e Haroldo!


Segue a lista dos que concorrem a HQ do Calvin e Haroldo, A vingança da babá:

01 - @AkaGuto
02 - @alive75
03 - @amanda_mag
04 - @amolets
05 - @Bialucky
06 - @brincher
07 - @CatiaFernanda
08 - @caradesorte
09 - @cinejornal
10 - @cucoliquio
11 - @DellMoraes
12 - @ehpromotodentro
13 - @fatimatrodo
14 - @giselefagundes
15 - @greengirltalk
16 - @guga_magno
17 - @Horenhein
18 - @katitaroll
19 - @lamaringoni
20 - @Lara26sp
21 - @lepetitpromo
22 - @Lindababy007
23 - @manuscdasombras
24 - @Misteriouskin
25 - @ninakopko
26 - @nomemarcos1
27 - @sCalvin13
28 - @Spinosa01
29 - @thiagocurtis
30 - @thiagofaride
31 - @tstille
32 - @virginiaemike

Pensando numa forma justa de realizar o sorteio, decidimos fazê-lo pelos dois últimos números do sorteio principal da Loteria Federal deste sábado, 15/05.

Caso não saia um ganhador, procederemos da comparação do quarto e terceiro dígitos, do terceiro e segundo dígitos, do segundo e primeiro dígitos do sorteio principal (cada prêmio da Federal tem cinco dígitos).

Se ainda assim não sair um ganhador, vamos ao segundo, terceiro, quarto e quinto prêmios, até sair.

Complicado e burocrático, talvez, mas faz valer mesmo a sorte de cada um.

Obrigado a todos que repercutem a Cultura HQ!
Em breve nova promoção!

BOA SORTE!!!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Gibi: um termo em extinção?

por juniores rodrigues

Outro dia me dei conta que há anos não usava a palavra gibi para me referir às histórias em quadrinhos. E quando essa palavra saiu, saiu com um gosto estranho, quase arcaico, como se evocasse uma entidade há muito perdida ou esquecida. E realmente podemos observar que, atualmente, quem utiliza o termo está quase passando ou já passou da casa dos 30. O que eu noto (e aqui vai um dado nada comprovado, vindo somente de minhas parcas observações) é que, na maioria das vezes em que o termo é usado, há um tom pejorativo que o acompanha. Será isso uma manifestação apenas dos “mais velhos”? Talvez. Porque talvez a palavra gibi ainda esteja vinculada aos tempos em que essa modalidade era pensada ou considerada uma “arte menor”. O passar dos anos vem provando que as histórias em quadrinhos superaram esses preconceitos e se consolidaram como uma arte respeitável e mesmo inspiradora para outras artes, sobretudo no âmbito da cultura pop, tornando-se, além de objetos de fruição, ferramentas para o Ensino e “formação” do homem.

Voltando ao termo gibi, decidi ir mais a fundo em sua história e acabei descobrindo coisas interessantes. Uma delas é que se o termo soa preconceituoso nos dias de hoje isso tem a ver com sua origem mesmo. O caso da palavra gibi, a princípio, parece ter a ver com aquelas metonímias “inexplicáveis”, explicadas pelo sucesso de uma marca que se torna sinônimo de determinado produto, como é o caso de bombril, gillete e outros produtos.

A expansão do uso do termo ocorreu com o lançamento de revista Gibi, em 1939, pelo Grupo Globo. Na capa das edições, ao lado da destacada palavra Gibi, estava o desenho de um menino negro, também detentor da significação do termo, como podemos averiguar no Dicionário Houaiss:

gibi

Substantivo masculino

Regionalismo: Brasil. Uso: informal.

1 garoto negro; negrinho

2 publicação em quadrinhos, ger. infanto-juvenil

Etmologia: orig. obsc.

Segundo o professor Christian Arnold Leite, o termo gibi surgiu “com a revista Gibi, em 12 de abril de 1939, pelo editor e proprietário Roberto Marinho, através do jornal O Globo. O logotipo da revista era o menino negro no alto da capa falando, em algumas vezes, a palavra “Pelé”. Este termo, gibi, também é descrito como “um negro de traços grosseiros e rudes”.”

Interessante notar que mesmo a origem etimológica da palavra é dada como “obscura” pelo dicionário Houaiss, fato que torna ainda mais interessante essa cadeia de possíveis relações entre a origem e sentido (fim) imaginado e, sobretudo, aquele obtido, ainda que involuntariamente. A palavra que dá título a uma publicação da qual sua própria definição é excluída não tem também origem rastreável, tornando a exclusão uma ação permanente, suspendendo o excluído numa espécie de limbo, sem direito a réplica, como se, desde sempre, os gibis do nosso mundo estivessem com seu destino traçado, sem possibilidades de mudança.

Pondo a questão do preconceito racial e/nas HQs um pouco de lado (mas deixando aqui a entrevista do professor Christian Arnold Leite como exemplo de discussão da questão da representação dos negros em HQs), é interessante pensar o que o termo gibi inspirava e o porquê de seu uso para encabeçar uma publicação de quadrinhos. Por que associar a publicação de tiras de aventuras à imagem de um garoto negro? Podemos imaginar que nessa época (somente?) a imagem de um garoto negro como a que estampa a revista devia inspirar um mundo de possibilidades ligadas ao imaginário acerca dos negros e de suas especificidades e características culturais. Quais as expectativas em relação aos negros tão pouco tempo após a abolição? Qual a situação das famílias e das crianças negras de então? Qual seu lugar após as “limpezas” urbanas, como a de Pereira Passos no Rio de Janeiro? Onde o negro transita e a que(m) serve? Como reagir quando o Quilombo passa a ser favela?

Provavelmente, a representação de um menino negro devia bater com a de um “desocupado”, talvez um traquina, um espírito renegado, mas “livre”. E essa liberdade talvez fosse o que se buscava associar ao que era publicado, um mundo de aventuras, diferente daquele em que vivia o público leitor, que provavelmente não incluía meninos negros. Também cabe ressaltar que se hoje nos soa estranho essa denominação e suas implicações (o radar do politicamente correto ligado a cada esquina...), à época, pelo fato de se tratar de um produto, o uso do termo deve ter se dado em consonância com a mentalidade reinante, ou seja, era condizente com as expectativas e com a visão de mundo dos consumidores de então. Visão essa que colocava o negro como mero coadjuvante nas histórias de heróis (brancos), quando muito, pois não raro eles são representados como selvagens cuja única determinação é se alimentar de presas indefesas e dos heróis, quando esses são capturados em alguma armadilha. Por essa época, estava longe ainda o tímido protagonismo de personagens negros que vemos hoje. Indo por outra via, podemos até supor que o uso de um menino (negro) como chamariz de uma revista de quadrinhos buscasse alguma reminiscência do Menino Amarelo (Yellow Kid), considerada a primeira história em quadrinhos, apesar das controvérsias. Enfim, crianças cativam! E um menino negro e toda a carga de mistério que pode haver em seu entorno também pode ter um efeito catalisador nas intenções do leitor de viajar por esse universo que se desvenda a cada página.

Conjecturas à parte, a ambiguidade do termo prevaleceu e, por anos, o gibi foi visto como uma produção menor, como “coisa de criança”. A superação dessa condição parece ter abolido ou estar abolindo também a utilização do termo. Hoje, temos as histórias em quadrinhos sendo largamente publicadas no Brasil (não da forma ideal talvez), nos apropriamos de termos como mangá, graphic novel e mesmo arte sequencial (ara honrar o mestre Eisner) e no nível universitário seus conteúdos e suas metodologias são temas de inúmeros trabalhos acadêmicos, dissertações e teses.

Não serei ingênuo também de não “perceber” que as HQs se estabeleceram como item de mercado que, como todo produto bem sucedido, se expandiu, seguindo e criando demandas, sejam as de crianças, jovens ou adultos ou mesmo as dos pesquisadores. Talvez, não de modo direto, continuem não sendo voltadas, cultural e financeiramente, aos “gibis” da atualidade. E talvez os leitores de hoje ainda continuem sonhando com aquele mundo que, supõem-se, apenas os negrinhos desgarrados, com suas feições rudes, podem penetrar.

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Sobre a Revista Gibi e sua vidas, vale a pena conferir:

Gibi Semanal

Histórias que não estavam no gibi