quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dica de sexta: terror em dobro

Indo às compras hoje, me deparei com duas histórias, ambas publicações da Devir, a princípio distintas, mas que têm em seu cerne um elemento comum, são histórias que buscam envolver o leitor pelos elementos de terror que contêm. Cada uma a seu modo, pois uma delas, Courtney Crumrin & As Criaturas da Noite, de Ted Naifeh, é voltada ao público infanto-juvenil, enquanto Pixu, de Gabriel Bá, Becky Cloonan, Vasilis Lolos e Fábio Moon, pode ser enquadrada como adequada para as “crianças grandes”.

Na primeira, a história de uma menina que, forçada a se mudar para a casa do seu estranho e rico tio, acaba por descobrir na velha casa e no mundo ao seu redor os elementos da magia, bem como seus fascínios e perigos. Entre as tentativas de encaixe num mundo social totalmente diverso do seu, aparentemente tão desejado e apropriado para seus pais, Courtney encontra na magia a saída para seus dias de tédio e isolamento, descobrindo que sempre há um preço a se pagar quando se vislumbra e se mexe com o “lado de lá”.

Pixu, por sua vez, tem como destaque uma casa e os terrores que as modificações em suas estruturas trazem para seus habitantes, pessoas de sexos, idades e temperamentos diferentes, que vão ter que enfrentar as forças do desconhecido, numa jornada macabra que pode não ter fim...

Cada uma a seu modo, quem sabe essas duas histórias possam tornar seu fim-de-semana menos tedioso e um pouco mais assustador...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

HQs e mercado: as decisões editorais



por juniores rodrigues

Os quadrinhos são inegavelmente parte do universo do que se convencionou chamar de cultura pop. É arte? Com certeza! A Nona para o senso comum, a primeira para seus apreciadores mais fervorosos. Dos anos oitenta pra cá o status de arte tem se tornado inquestionável e as premiações em diversas categorias voltadas para "a literatura" têm provado o valor das HQs para contar histórias e mesmo revolucionar o "modo" de contar histórias. Conjugando texto imagético e texto escrito, ela é capaz de nos transportar a universos totalmente diferentes do "nosso" e nos levar a "viver" aventuras inimagináveis. As possibilidades são infinitas e a criatividade dos artistas envolvidos (roteiristas e/ou desenhistas) é o limite. Certo? É o que tentamos responder aqui, embora saibamos que essa não é tarefa das mais simples.

Nosso foco não se dará sobre as HQs tratadas como arte, mas nas HQs como "arte comercial", um produto com características específicas feito, antes de mais nada, para atender a uma demanda de mercado. Pretendo falar brevemente da relação entre a produção de HQs, no seu sentido estritamente artístico, e as necessidades de manutenção de um mercado editorial. Como dito antes, os anos oitenta serviram para conferir respeito às HQs e, desde então, muita coisa de qualidade tem sido feita, sobretudo no quesito dos "quadrinhos adultos", das histórias fechadas. Watchmen, Sandman, Preacher, V de Vingança, Sin City e mesmo personagens como John Constantine têm garantidos os seus lugares como base das HQs "de qualidade". Mas e quanto aos comics, que ocupam uma grande fatia do mercado e que, literalmente, não param nunca? Quais os critérios e as necessidades que essa forma de HQs têm de obedecer para continuar sua atuação sem perder de vista sua coerência e importância para gerações e gerações de leitores?

Nada que abale mais um jovem leitor que ver seu herói predileto erder a vida diante de uma grande e imopssível batalha contra o mal. E nada mais redentor que vê-lo levar a melhor sobre a morte e acompanhar seu retorno triunfante. E isso acontece uma vez. E uma segunda vez. E quando você vê, já perdeu a graça, não convence mais. E quando você vê, você já não é mais aquele garoto/garota que se deixava envolver tanto e se levar pelas aventuras de seus heróis e heroínas. E aí? Simplesmente é a hra de saltar do barco. Assumir a alcunha de velho e se dedicar a coleções fechadas e a seu acervo da época "em que as coisas eram boas de fato"? Talvez... Mas você consegue ser tão sério e sisudo de repente?

É claro que o mercado de HQs se renova bastante em termos de idade de seus leitores, mas nós estamos aqui, velhotes que não conseguem largar o osso. Certamente nos tornamos leitores melhores (muitas vezes graças aos quadrinhos mesmo) e, claro, muito mais exigentes. E então você já leu e releu Sandman e toda a sua coleção de encadernados, mas ainda não resiste em saber o que acontece com seus heróis, quais sagas se desenrolam e qual a última nova novidade que abala seus mundos.

Adentrando um pouco mais na questão desejada, chegamos ao ponto que abala, sobretudo, a nós, leitores antigos, costumeiros: a conjunção entre a produção de um objeto de fruição e as necessidade de avança e manutenção de seu mercado. Como se conciliam a produção artística em torno do mundo dos heróis e a necessidade de renovação de público para esse mundo? Quais as necessidade editoriais que regem, nem sempre por detrás dos panos, as vidas e os universos de nossos "sagrados" companheiros de tantas lutas?

Uma maneira clara de promover alterações no mundo dos heróis é a realização de sagas. Cria-se uma situação substancialmente maior que as habituais, que irá gerar consequências para todos os envolvidos, muitas vezes resultando na dissolução de grupos, inimizades, novas alianças e na famigerada morte de heróis e vilões. A morte, esse parece ser o grande elemento que separa heróis de vilões, a única fronteira que não pode ser cruzada pelos "escolhidos". Então ela vem e nos tira um herói. E isso é doloroso, mais ainda quando se trata de um dos grandes, daqueles que despertam o que há de melhor em seus universos. Capitão América e Superman são bons exemplos disso. E suas mortes e retornos talvez sejam sintomas das necessidades das editoras de manter a bola sempre no alto e de ter outra bola levantada quando a anterior é cortada. Então vem uma nova saga e uma nova "era". E nós, os leitores apaixonados, ficamos com cara de taxo. Sobretudo quando as explicações para os retornos não batem muito bem. Sobretudo quando o que está morto deveria continuar morto. Já vimos esse filme diversas vezes e continuamos a assisti-lo. De novo, talvez a culpa seja só nossa por não trocarmos de canal, mas...

Mataram o Super-homem, mataram Capitão América, mataram o Thor, mataram o Lanterna Verde, mataram (várias vezes) o Flash e, o impensado, embora talvez o mais desejado, "mataram" o Batman (que já havia sido "quebrado"). Estávamos prontos pra isso? Provavelmente sim. E agora todos "'caminham" novamente entre os vivos, mantendo acesa a chama da jutiça. Todos? Bem, o Batman ainda não voltou, mas sabe-se que voltará. Apenas tirou umas "férias" e foi viajar no tempo... Enquanto isso "todos os mortos" do Universo DC se levantaram e, depois de muita luta, voltaram para o descanso eterno. Todos? Claro que não! Alguns heróis e vilões estão aí de novo, prontos pra outra, pra outro embate com a Dona Morte. E qual o porquê disso dentro da infinita narrativa das HQs comerciais? A resposa é quase sempre a mesma: manter a coerência, amarrar pontas soltas e, antes de tudo, dar emoção a novos e "antigos" leitores. Há sempre um projeto terminando e outro iniciando. Já não temos mais um espaço para respirar entre uma "surpresa" e outra, porque... O Arqueiro Verde (que também já morreu) cruzou a linha e toda a "família" de arqueiros está sofrendo as consequências disso, além da própria Liga da Justiça.


Bem, parece que chegamos num ponto sem volta e também sem muita possibilidade de ação. Dificilmente poderemos parar essa onda de mortes e retornos, de ascenções e quedas. Do ponto de vista editorial, são sempre a melhor saída ou opção para reoxigenar o mercado e introduzir novas situações e antigos personagens (e novos formatos) a novos leitores, ainda que muitas (a maioria?) dessas decisões saiam do nada e levem a lugar nenhum, causando irritação e decepção, faltando "culhões" aos editores para manter aquelas mais interessantes (um mundo sem Batman/Bruce Wayne?). De todo modo, é interessante para o nosso crescimento mesmo, como leitores, perceber e dialogar com essas "mudanças" e adaptações pelas quais passam e separar o joio do trigo nessas publicações permanetes. Pois permanentes é o nosso amor à causa heróica e, por mais que sacudam nosso mundo e balancem nossas convicções, resistiremos bravamente junto aos heróis que o tempo nos ensinou a admirar e a acompanhar.

terça-feira, 13 de abril de 2010

SEGUINDO NEIL GAIMAN

por Jonas Tenfen


Como toda ferramenta virtual que tem sucesso na internet, o Twitter também foi acusado de corromper as pessoas, de destruir a escrita, de ser mais uma marca dessa decadente geraçãoaudio-visual... e por aí segue ad infinitum uma reiteração dos mesmos argumentos e uma variação – igualmente sem fim – sobre os mesmos temas; variando, de fato, apenas o alvo do comentário: uma ferramenta virtual qualquer em questão ou debate.

Comentários estes que também são comuns em discursos de escritores e pensadores laureados, em alguns casos, laureadíssimos, diga-se de passagem. Como, por exemplo, José Saramago, Nobel de Literatura, que constantemente afirma nas suas entrevistas: Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido. Escapou ao excelente escritor (excelente mesmo! sem ares de ironia que fatalmente podem pairar sobre o comentário) pequenos detalhes como o fato de que quase todos os hai-kais (todos se escritos em ideogramas) e a grande maioria dos aforismos de Nietzsche cabem em 140 toques – até menos. Começa, a partir destes dois exemplos dentre tantos outros, ficar um pouco complicado e difícil reduzir a simples grunhidos escritas dessa dimensão. (Barbárie se dá de todos os tamanhos, mas isso é uma outra discussão.) Até mesmo os nobéis, principalmente se de mau-humor, são passíveis de ligeiras falhas argumentativas como estas.

De maneira geral, o Twitter conseguiu espaço pela leveza e agilidade: ao tentar se diferenciar de um e-mail pela limitação do número de toques, acaba criando a vivacidade que lhe é tão característica. O chargista Maurício Ricardo afirmou recentemente, na sua sessão e-mails comentados do seu www.charges.com.br, que se tornou fã incondicional do Twitter pela facilidade de administração e controle, em oposição direta ao Orkut. De fato, o Orkut – incrivelmente popular no Brasil – é uma espécie de fórum de si mesmo, onde os posts e scraps são as pistas da popularidade e da leitura, que pode se desdobrar em infinitas comunidades, em fóruns e tópicos dentro de comunidades... algo bem difícil de se administrar. No Twitter, a quantidade de seguidores, por si só, já é “o sucesso”: todos os seguidores receberão os posts, mas se estes serão lidos, debatidos ou apagados não importa tanto. Os comentários podem ser retwettados, o que inicia toda uma outra estatística, também sintoma de popularidade.

Outro twitteiro muito profícuo é Neil Gaiman. Gaiman, que possui hábitos reclusos (não tão reclusos como os de Alan Moore, obviamente), fez da Internet e agora do Twitter uma ferramenta para se aproximar - ainda que se afastando – dos seus leitores no mundo todo. É muito comum que o autor de Sandman, antes de uma palestra, peça aos seus seguidores para lhe enviarem perguntas a serem respondidas depois da sua fala. Em recente palestra no Royce Hall, o principal Centro de Eventos da University of Califórnia (UCLA), Gaiman foi perguntado – como acabamos de comentar, via Twitter – quando Sandman vai virar filme. Muito à inglesa, limitou-se a responder: “Quando for filmado.”

Para além de perguntas e “What’s happening?”, Gaiman utiliza o Twitter para divulgar livros, textos, obras, não apenas – na verdade, raramente – os seus livros, mas de outros autores que encontraram no ambiente virtual espaço para publicar seus trabalhos. Leitor voraz, Gaiman deve garimpar muito material on-line, da mesma foram que deve receber muitas indicações; leitor generoso, faz questão de divulgar esse material. Seria interessante, mas ligeiramente inútil, abrir uma sessão neste blog chamada “Dicas de Gaiman”, com estes posts do Twitter. Interessante, pois teríamos NEIL GAIMAN como colaborados nosso no Cultura HQ! (Ora leitor, a propaganda é a alma do negócio!) Mas inútil, porque qualquer um pode segui-lo, mesmo sem Twitter. Sem contar que tais “dicas”, por vezes, acabam sendo conhecidas e popularizadas por outras ferramentas do orkut, como por outros blogs, como pelo próprio, e ainda forte, orkut.

*Jonas Tenfen não tem Twitter por pura preguiça, e quem lhe passa muitas das dicas de Gaiman é Juniores Rodrigues. Se você é twitteiro e ainda não segue Neil Gaiman, o endereço é @neilhimself; aproveite a deixa e passe a seguir o Cultura HQ também! Nosso endereço é @cultura_hq.Você pode ler toda a entrevista de José Saramago que foi citada neste texto clique aqui.