terça-feira, 13 de abril de 2010

SEGUINDO NEIL GAIMAN

por Jonas Tenfen


Como toda ferramenta virtual que tem sucesso na internet, o Twitter também foi acusado de corromper as pessoas, de destruir a escrita, de ser mais uma marca dessa decadente geraçãoaudio-visual... e por aí segue ad infinitum uma reiteração dos mesmos argumentos e uma variação – igualmente sem fim – sobre os mesmos temas; variando, de fato, apenas o alvo do comentário: uma ferramenta virtual qualquer em questão ou debate.

Comentários estes que também são comuns em discursos de escritores e pensadores laureados, em alguns casos, laureadíssimos, diga-se de passagem. Como, por exemplo, José Saramago, Nobel de Literatura, que constantemente afirma nas suas entrevistas: Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido. Escapou ao excelente escritor (excelente mesmo! sem ares de ironia que fatalmente podem pairar sobre o comentário) pequenos detalhes como o fato de que quase todos os hai-kais (todos se escritos em ideogramas) e a grande maioria dos aforismos de Nietzsche cabem em 140 toques – até menos. Começa, a partir destes dois exemplos dentre tantos outros, ficar um pouco complicado e difícil reduzir a simples grunhidos escritas dessa dimensão. (Barbárie se dá de todos os tamanhos, mas isso é uma outra discussão.) Até mesmo os nobéis, principalmente se de mau-humor, são passíveis de ligeiras falhas argumentativas como estas.

De maneira geral, o Twitter conseguiu espaço pela leveza e agilidade: ao tentar se diferenciar de um e-mail pela limitação do número de toques, acaba criando a vivacidade que lhe é tão característica. O chargista Maurício Ricardo afirmou recentemente, na sua sessão e-mails comentados do seu www.charges.com.br, que se tornou fã incondicional do Twitter pela facilidade de administração e controle, em oposição direta ao Orkut. De fato, o Orkut – incrivelmente popular no Brasil – é uma espécie de fórum de si mesmo, onde os posts e scraps são as pistas da popularidade e da leitura, que pode se desdobrar em infinitas comunidades, em fóruns e tópicos dentro de comunidades... algo bem difícil de se administrar. No Twitter, a quantidade de seguidores, por si só, já é “o sucesso”: todos os seguidores receberão os posts, mas se estes serão lidos, debatidos ou apagados não importa tanto. Os comentários podem ser retwettados, o que inicia toda uma outra estatística, também sintoma de popularidade.

Outro twitteiro muito profícuo é Neil Gaiman. Gaiman, que possui hábitos reclusos (não tão reclusos como os de Alan Moore, obviamente), fez da Internet e agora do Twitter uma ferramenta para se aproximar - ainda que se afastando – dos seus leitores no mundo todo. É muito comum que o autor de Sandman, antes de uma palestra, peça aos seus seguidores para lhe enviarem perguntas a serem respondidas depois da sua fala. Em recente palestra no Royce Hall, o principal Centro de Eventos da University of Califórnia (UCLA), Gaiman foi perguntado – como acabamos de comentar, via Twitter – quando Sandman vai virar filme. Muito à inglesa, limitou-se a responder: “Quando for filmado.”

Para além de perguntas e “What’s happening?”, Gaiman utiliza o Twitter para divulgar livros, textos, obras, não apenas – na verdade, raramente – os seus livros, mas de outros autores que encontraram no ambiente virtual espaço para publicar seus trabalhos. Leitor voraz, Gaiman deve garimpar muito material on-line, da mesma foram que deve receber muitas indicações; leitor generoso, faz questão de divulgar esse material. Seria interessante, mas ligeiramente inútil, abrir uma sessão neste blog chamada “Dicas de Gaiman”, com estes posts do Twitter. Interessante, pois teríamos NEIL GAIMAN como colaborados nosso no Cultura HQ! (Ora leitor, a propaganda é a alma do negócio!) Mas inútil, porque qualquer um pode segui-lo, mesmo sem Twitter. Sem contar que tais “dicas”, por vezes, acabam sendo conhecidas e popularizadas por outras ferramentas do orkut, como por outros blogs, como pelo próprio, e ainda forte, orkut.

*Jonas Tenfen não tem Twitter por pura preguiça, e quem lhe passa muitas das dicas de Gaiman é Juniores Rodrigues. Se você é twitteiro e ainda não segue Neil Gaiman, o endereço é @neilhimself; aproveite a deixa e passe a seguir o Cultura HQ também! Nosso endereço é @cultura_hq.Você pode ler toda a entrevista de José Saramago que foi citada neste texto clique aqui.

Um comentário:

  1. Gostei de sua escrita. Seguem alguns pontos para vc me xingar depois:

    1) Onde está "da mesma foram que deve receber", leia-se "da mesma forma que deve receber";

    2) Onde está "pois teríamos NEIL GAIMAN como colaborados nosso", leia-se "pois teríamos NEIL GAIMAN como colaborador nosso".

    3) A respeito de "Mas inútil, porque qualquer um pode segui-lo, mesmo sem Twitter.", eu estava para comentar "Como é possível?", mas seu resumo (e de como você segue Neil Gaiman) já explicou. Achei interessante o artigo suscitar essa questão e respondê-la ao finalzinho, pois, besteira ou não de minha parte, eu achava que para "seguir" era preciso ter twitter. E, no entanto, não pensei em algo TÃO óbvio: o diálogo ENTRE pessoas. :) Abraços, Tony

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