terça-feira, 23 de março de 2010

O UNIVERSO DE FÁBULAS


por Cleber Bicca*

As personagens das fábulas adentrando o mundo real parece ser o principal mote da série Fábulas (Vertigo, 2003), pelo menos a princípio. As tramas pessoais de personagens clássicos do pop cânon infantil se intercalam com uma trama maior baseada no exílio das terras natais na pequena (e magicamente grande) Cidade das Fábulas, uma rua ética, de acesso restrito, dentro de Nova Iorque. Bill Willingham conseguiu com maestria atribuir agilidade e coesão à trama. Personagens como Branca de Neve, Cinderela, Rapunzel e Cachinhos Dourados, que cativaram muitas crianças pela beleza, meiguice e mesmo inocência, retornam como mulheres antenadas na cultura atual – uma delas assume, inclusive, a posição de guerrilheira e outra de super-espiã. O Lobo Mau continua a aterrorizar – mas dessa vez o foco são os inimigos declarados ou não da cidade de Fábulas. Algumas personagens como o João (sim, ele mesmo o Joãozinho) adquirem tal importância que acabaram recebendo edições especiais próprias, focando em suas histórias e tendo grandes crossovers com a história de fábulas. Talvez um dos grandes feitos de Fábulas seja exatamente isto: retomar personagens que povoam nosso imaginário através de uma inversão de papéis. Assim como nos colocávamos ao lado da Fera na dança com a Bela, as fábulas agora se projetam no nosso mundo, tendo que lidar com as mudanças culturais que envolveram os humanos nos últimos séculos. Eles almejam estar (e estão) entre nós e isso só é possível pela diáspora causada pelo Adversário, pelas características intrínsecas da personagem de cada fábula e, principalmente, pela capacidade de permanecerem longevos através da popularidade entre nós, humanos. Se este não for o que Dom Quixote significou para a novela de cavalaria é provável que as fábulas perdurem - entre nós - por mais mil anos.

Ilustração: 9,5 - Texto:9 - Trama geral: 9,0

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*Graduado em Letras Espanhol pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina.

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